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terça-feira, 6 de abril de 2010

Prisioneiro Solitário –Pelos caminhos da vida

“Prisioneiro solitário é o que sou”.

Primeiro como idéia nos sonhos de meus pais.
Depois no útero de minha mãe.
Prisioneiro da vontade dos adultos; pois criança não sabe o que faz.
Prisioneiro solitário nas dúvidas cruciais de minha adolescência; adolescente só aborrece!
Prisioneiro de um sistema;
Da escola
Do trabalho
Do casamento
Dos filhos
Enfim,
da vida!
Transitando em toda a minha existência, adquiri grande sabedoria
Já sei que caminhos seguir
Mas não tenho mais força para caminhar.
Isso me faz sentir cada vez mais solitário
Ora, toda essa solidão faz parte do viver!
Afinal, disse Saint Exupéry : “A flor para conhecer algumas borboletas tem que suportar algumas lagartas”.
E eu suportei-as todas com muita sabedoria.
Tendo a morte como companheira, me despeço sem nenhuma nostalgia.
Eu não vou vos deixar!
Vou apenas partir antes.


Lourdes Sola Psicóloga
Comportamental e Cognitiva Especialista pela USP

segunda-feira, 5 de abril de 2010

José

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José ?

e agora, você ?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama protesta,

e agora, José ?



Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José ?



E agora, José ?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora ?



Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora ?



Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, José !



Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José !

José, pra onde ?


Carlos Drummond de Andrade